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temporal no céu da boca

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“Temporal no Céu da Boca” é o disco de estréia da banda portoalegrense Subtropicais. Sim, estamos abaixo do trópico, mas precisa levar isto a sério? Os Subtropicais levam muito a sério. Desde 2000 na estrada, a banda faz música abaixo do trópico, mas para todas as latitudes do mundo. Neste disco, as músicas são um ode ao movimento tropicalista da década de 1960, porém com uma pitadinha de umidade, céu, sol, sul, terra e cor. Aqui tudo que se planta bem cresce e, Os Subtropicais, no seu amadurecimento precoce, vão conquistar os pratos de muitos roqueiros. Não é a toa que a qualidade musical está em primeiro plano neste primeiro disco. O baixista Brawl tem experiência vivida na cena roqueira gaúcha, fazendo parte de grandes bandas como Proveitosa Prática, Os Cozinheiros, Levitan & Os Tripulantes, entre outras. Além dele, a impecável produção de Marcelo Fruet, deixa claro que a banda tem uma influência determinista, afinal, Fruet convive com os caras desde guri. Destaque para as primeiras faixas “TV” e “São Nunca”, uma salada de groove, rock e psicodelia, que vão te fazer levantar da cadeira e perguntar: “Quando é o próximo show deles??”. Espero que seja em breve, pois escutar Os Subtropicais apenas em casa ou no mp3 player é pouco para umas pernas sedentas por embalos de sábado, domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado a noite. Agora, já é possível afirmar: existe sim movimento Subtropical! E é Gaúcho!

outubro 18, 2007 Posted by | pampa, porto alegre, subtropicais | Deixe um comentário

impressões de um novo festival

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césar troncoso em “el baño del papa”

A chuva e a serração permanente não tiraram o brilho do Festival de Gramado. Pelo contrário, parece que assim as pessoas estavam mais próximas, e ficou fácil se esbarrar em uma estrela do cinema.
A primeira noite que assisti foi a de quinta-feira, 16. A começar pela Mostra Gaúcha de Curtas, A Peste da Janice, mereceu os três prêmios que levou (Fotografia, Montagem e Direção). O filme de 15 minutos é triste, nostálgico e mostra como ainda é possível fazer Cinema em pouco tempo, e com baixo orçamento. Porém, quem ganhou mais prêmios foi Um Aceno na Garoa” (Ator, Atriz, Música – Geraldo Flach e Direção de Arte). O prêmio de melhor filme ficou com Rolex de Ouro, de Beto Rodrigues, que também ganhou o prêmio duplo de Melhor Direção.
Um destaque na minha opinião foi Overdose Digital, que com um péssimo roteiro, exagera (no bom sentido) nas técnicas de vídeo digital, utilizando até quatro planos na mesma cena.
Da mostra competitiva de longas, só consegui assistir a El Baño del Papa e Otávio e as Letras. El Baño segue a mesma linha de Anjos do Sol e Filhas do Vento, e acho que depois de Noite de São João é o primeiro filme apresentado no festival com cenário 100% Pampa! Que Pampa é essa?
El Baño del Papa se passa em Melo, uma cidadezinha uruguaia a 60 quilômetros de Aceguá-RS. Beto é um pai de família que ganha a vida trazendo muambas da fronteira, e lida diariamente com o enfrentamento com a polícia de fronteira, sendo por vezes humilhado e tomadas suas encomendas. Mas isso não o desanima de dois sonhos: primeiro guardar dinheiro para a filha Silvia poder estudar Jornalismo em Montevideo, e o outro surge com a visita de João Paulo II ao pequeno vilarejo. A vinda do papa traz esperanças econômicas aos habitantes, que chegam a pedir empréstimo ao banco a fim de montar barracas e vender comida aos esperados 40 mil turistas brasileiros, que tanto a mídia evocou. Mas Beto tem outra idéia: montar um pequeno banheiro e oferecer “serviços higiênicos” aos turistas. E é em busca do sonho de construir este banheiro que a trama se desenrola, de forma muito bem montada, e mostrando imagens do nosso Pampa que dificilmente algum fotógrafo amador conseguiria adquirir. O que mais chama a atenção neste filme, para nós gaúchos, é ver um pampa castelhano, que desconhecemos, ou que achamos habitual, mas ao ouvir a língua vizinha, nos remete ao lugar estranho. Mas estão lá o chimarrão, o chouriço, Aceguá, Jaguarão, o céu fincado no chão. Mas ainda sim, é outro país.
Fronteira lingüística? É nosso Pampa que ficou para trás!

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foto: thiago piccoli

O genial Eduardo Coutinho
Coutinho é calmo, é divertido. Um dia após a avant-première de Jogo de Cena, Eduardo Coutinho sentou-se para falar. Em um bate-papo aberto à jornalistas contou um pouco da história de fazer o novo filme, dos bastidores e causos.
As primeiras perguntas foram relacionadas ao gênero do filme, ora ficção, ora documentário. Coutinho responde que “ficção é o que me dizem que é, documentário foi o que eu fiz.” A estranheza parte devido à atuação de grandes atrizes, como Marília Pêra e Fernanda Torres.
Quem está acostumado com os filmes dele, sabe que Coutinho captura histórias de brasileiros anônimos. “São instantes da vida cotidiana, e é preciso acreditar no que a pessoa falou naquele momento”, reflete. Então elas não estavam atuando? “Não! Tanto que se você prestar atenção, Fernandinha se chama por Nandinha, seu apelido de infância. A Marília dá alguns deslizes de costume, e em algumas vezes ela pede para cortar a filmagem, e repetir a história. Isso é uma ótima idéia para filme: uma pessoa contando várias vezes a mesma história, parando e recontando. Nunca vai ser a mesma história. Mas Marília é Marília. Não está atuando, nem fingindo ser ninguém. Eu costumo dizer que utilizo a técnica da não-direção. Me deixo levar.”
Em relação ao espaço de seus filmes, o documentarista diz que procura geralmente lugares e pessoas que ele não conhece. Para Jogo de Cena, a metodologia foi diferente: “há espaços armados, há espaços naturais. Talvez por isso insistam tanto na ficção. Mas veja bem, Master (Edifício Master) não deixa de ter cenários armados. Por exemplo: eu escolhia onde as pessoas sentavam. Não daria para puxar as histórias se a gente não armasse um circo “luz-câmera-ação”. Master é ficção? Em relação a Santa Marta – Duas Semanas no Morro, a única verdade é que eu passei duas semanas no morro. O resto é ficção? Não, são histórias contadas. A mesma coisa com Master: a única verdade é que passamos um mês naquele prédio, gravando histórias. Cabe ao público julgar se as histórias são ficção ou não. É um outro espaço que vai além dos limites do apartamento. Mas eu não voltaria ao Santa Marta para fazer um novo filme, do tipo ’20 anos depois’. Eu sei que a situação social está a mesma.”
Novos projetos? “Eu não posso parar de fazer filmes, é o que me sustenta.”

Bate-papo com Beto Strada*
Compositor de mais de 40 trilhas sonoras para cinema, Beto Strada nasceu em São Luís do Maranhão, e hoje vive em São Paulo. Trabalhando com Jean Garret, quando ganhou seu primeiro prêmio, o da Associação Paulista de Críticos de Arte, segundo ele um prêmio “complicado”, surgiu a motivação em criar o curso “Som em Cena”. Não havia ninguém no Brasil que ensinasse. Ele brinca que os gaúchos são privilegiados, pois além dele, só em Buenos Aires dão esse curso na América Latina.
O curso consiste em formar artistas de Foley, técnica utilizada por estúdios americanos para recriar sons e efeitos no filme. A técnica é simples, segundo ele. Em cena, prioriza-se a gravação da narrativa, e em estudo se recria os outros planos sonoros, a fim de facilitar na hora da dublagem. Seu grande professor foi Geraldo José, que montou o primeiro estúdio de Foley na TV Globo.
Perguntado sobre os filmes de animação, foi enfático em citar a Pixar como o estúdio perfeito, mas não deixa de dar crédito também aos estúdios Disney.

– Qual desenho de televisão tem uma trilha perfeita?
– Zé Colméia e Tom & Jerry.

– E o que tu achas do videoclipe?
– O videoclipe é o contrário do som em cinema, pois as imagens são criadas de acordo com a música.

– Como jurado do Gramado Cine Video, o que achaste dos videoclipes concorrentes?
– Tinha vídeos muito bons. Mas outro jurado, o psicanalista Jairo Bauer, disse na ocasião que a MTV seleciona os vídeos de acordo com as imagens. O que tem imagem melhor, entra na programação. Eu discordei, argumentando: como se vai fazer um videoclipe em que não haja sincronia entre a história da música e a história do vídeo? O vídeo vencedor tem isso, embora outros jurados fossem contra.

* Ministrante da oficina O Som em Cena

outubro 18, 2007 Posted by | beto strada, césar troncoso, eduardo coutinho, el baño del papa, festival de gramado, pampa | 2 Comentários